Demonstrando uma clara reação ao atual momento político e econômico do país, com a paralisação das reformas no Congresso Nacional e a inflação 12 meses acima da meta anual, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou, na semana passada, a elevação da taxa básica de juros (Selic) de 2,75% para 3,5% ao ano. A sinalização de uma política monetária mais austera derrubou o valor do dólar, que caiu 3,75%, fechando na última sexta-feira, dia 7, a R$ 5,22 na venda, menor valor desde janeiro.
É sabido que o Banco Central usa a Selic como um dos principais instrumentos para controlar a inflação, pois, com o aumento da taxa, o crédito encarece, desestimulando o consumo, estimulando a poupança, e desaquecendo a economia. Em contrapartida, os juros mais altos acaba atraindo o investidor estrangeiro, que acaba mandando mais dólares para o país em forma de títulos, fundos e investimentos e, com mais oferta de dólar no mercado nacional, o valor da moeda diminui em relação ao real e o preço de alguns produtos cotados em dólar cai, diminuindo a inflação.
Segundo analistas, a decisão do Banco Central de elevar a taxa Selic teve mais intenção de baixar o dólar do que de controlar a inflação, principalmente, porque o efeito no câmbio é muito mais imediato. O Copom já adiantou que pode elevar a taxa em mais 0,75% no mês de junho, alcançando uma alta de 112% desde março, o que não se via desde junho de 2015. Segundo o Boletim Focus, divulgado no início dessa semana, a previsão é de que o dólar encerre o ano valendo R$ 5,35, menos que os R$5,40 estimados na semana passada.
Economistas do mercado financeiro acreditam que a expectativa para a taxa básica de juros gire em torno de 5,50% ao ano, em 2021, e em 6,25% ao ano, em 2022. A previsão deste ano para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que orienta a inflação no país, subiu de 5,04% para 5,06%, quinto aumento consecutivo. A projeção está próxima do limite estabelecido como meta pelo Banco Central. Apesar disso, as instituições financeiras consultadas pelo BC aumentaram as projeções de crescimento da economia brasileira de 3,14% para 3,21%. Já a expectativa da cotação do dólar para o fim de 2022 é de R$ 5,40, valor bem próximo ao estimado para o fim desse ano.
É preciso lembrar, no entanto, que as taxas de câmbio são extremamente sensíveis às mudanças políticas. Ano que vem, teremos uma campanha presidencial que promete muitas surpresas e um cenário difícil de prever, podendo trazer tanto a alta, como a queda ou a estabilidade da moeda. Tudo vai depender também da diminuição dos riscos fiscais. Apesar do esforço do Banco Central para o fortalecimento do real frente à moeda norte-americana, o cenário de incertezas que ronda a economia brasileira impede uma projeção mais confiável em longo prazo.