De olho no mercado
Ontem tivemos um dia de total aversão ao risco mundo a fora. Por aqui o dólar chegou a romper a barreira dos R$ 4,00 mas fechou abaixo disso, e a bolsa encerrou em queda de 2% (101.915 pontos). O pano de fundo para todo este movimento por aqui foi a crise na Argentina. A vitória do candidato da oposição (aliado de Cristina Kirchner) nas eleições primárias que ocorreram neste final de semana trouxe de volta o medo de que o país adote uma política mais heterodoxa (alinhado à esquerda).
O peso argentino bateu nas mínimas históricas frente ao dólar (62 pesos por dólar). Após intervenção do Banco Central da Argentina, perdeu um pouco de fôlego e fechou a 53. A taxa de juros básica passou a ser de 74,035%aa após a realização de um leilão de Letras de Liquidez (Leliq).
Mas o impacto deste efeito deve ser limitado ao curto prazo. O recado é bastante claro: “uma coisa é a aversão ao risco, com a guerra comercial EUA x China, que atinge toda a classe de ativos emergentes. Outra coisa é a Argentina, cujo efeito é mais pontual”, disse um gestor. Tanto é verdade que ontem o CDS da Argentina (um seguro contra os calotes) subiu quase mil pontos e fechou em 1.936 pontos (+90,36%) e o CDS brasileiro subiu apenas 7,63% para fechar em 141 pontos.
Outro ponto interessante nesta questão com a Argentina é a de que nosso país não depende do aval daquele país para um acordo com a União Europeia. Este acerto foi feito na última reunião de chefes de Estado do Mercosul, e foi proposto exatamente por Maurício Macri, presidente da Argentina. Após a assinatura formal do acordo e o aval do Parlamento Europeu, as novas regras tarifárias passarão a valer para o país que obtiver aprovação do texto pelo seu Congresso.
O banco norte-americano JP Morgan revisou ontem sua estimativa para o dólar de R$ 3,90 para R$ 4,00 para o final deste ano. Citou em relatório: “eventos positivos no cenário doméstico, como a expectativa de que a reforma da Previdência deve ser totalmente aprovada no Senado até outubro estão sendo ofuscados por eventos no mercado internacional, principalmente a intensificação da tensão comercial entre China e EUA”.
E hoje é mais um dia de baixa nas bolsas europeias. O mercado segue de olho nas tensões geopolíticas na Itália, em Hong Kong e na Argentina. Dados da economia vindos piores do que o esperado na zona do euro também ajudam neste cenário, sem falar nas tensões comerciais entre EUA e China. As asiáticas já fecharam todas em baixa.
Na agenda para hoje o destaque vai para a divulgação do CPI nos EUA (inflação). Por aqui, além do já conhecido leilão diário de swap cambial (USD 550MM), será dia de acompanhar a definição do calendário da tramitação da reforma da Previdência no Senado.
Neste momento, as moedas EM continuam perdendo valor frente ao dólar, com perdas entre 0,15% e 1,50%.