Há um tempo, uma declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, gerou certo pessimismo no mercado financeiro.
“É bom se acostumar com juros mais baixos por um bom tempo e com o câmbio mais alto por um bom tempo” disse ele.
E quais são os impactos para os indivíduos?
Os efeitos mais imediatos no bolso do consumidor tendem a ser no preço das viagens ao exterior — já que o câmbio influencia tanto nos gastos em dólar quanto no preço das passagens, e no preço dos combustíveis. Mas, se a alta persistir e se transformar em tendência permanente, os efeitos podem ser mais amplos, como, por exemplo, na inflação e nos custos para as empresas e consequentemente de diversos produtos, especialmente aqueles de dependemos de importação.
A alta recente do dólar reflete a preocupação de investidores e gestores de recursos com a Pandemia do coronavírus, as turbulências políticas na América Latina e no mundo, bem como a incerteza das reformas estruturais.
Os preços vão subir (ou os empresários vão lucrar menos)?
A alta do dólar ainda não começou a surtir efeito significativo na inflação, pois não houve tempo para que a recente desvalorização impacte a inflação. Já os combustíveis podem sofrer aumentos repassando efeitos cambiais mais rapidamente assim que a demanda pós pandemia retomar. O repasse da variação cambial para os preços e para a inflação, que na linguagem econômica é chamado de “pass-through cambial”, não está ocorrendo neste momento.
No futuro, se a alta persistir, o aumento pode ser mais percebido pelo consumidor. Ainda não é tão notório vermos alimentos com alta por conta de câmbio. O pão francês, por exemplo, dado que é intensivo em trigo (commodity agrícola) que o Brasil importa muito, pode repassar desvalorizações cambiais.”
Importante frisar que o desempenho fraco que a economia brasileira vinha apresentando funciona como um “desacelerador” do repasse da alta do câmbio para os preços ao consumidor. Por exemplo, no último natal, se os lojistas aumentassem muito os preços poderiam acabar com produtos encalhados nas prateleiras.
O que parece claro é que, após a diminuição do surto, quem vai ser mais favorecido no curto prazo será o turismo local, que abarcará os turistas que desistirem de viajar para fora pois o ritmo de arrefecimento do dólar deve ser mais gradual.
Os exportadores vão ficar mais felizes?
Para entender como o sobe-e-desce do dólar influencia a economia, a lógica é simples: ganha mais quem recebe pagamentos em dólar, e perde quem tem custos comprometidos atrelados à moeda americana.
Mas, para os exportadores, a alta precisaria ser mesmo mais prolongada para que o aumento rendesse mais negócios e mais produtos vendidos no exterior. “Bens manufaturados [produtos industriais] não são commodities. A exportação envolve fatores como design, qualidade, serviços conexos, venda, contratos mais longos. Não se troca de fornecedor tão rapidamente.
“Geralmente a alta do dólar é um processo que vem acompanhado de algum nível de volatilidade. Só vai ter esse efeito benéfico se tiver a alta por mais tempo”
Por outro lado, o dólar pode ter efeitos negativos especialmente para os que dependem de insumos e maquinário importado. “O nível de atividade econômica atual é muito baixo, então o impacto em preços é menor do que no passado. Mas pode encarecer produtos importados e insumos importados na indústria.”
Até quando vai durar essa alta do dólar?
“A volatilidade não é boa para ninguém. Só serve para dificultar as projeções”,
O aumento na velocidade dos cortes na taxa de juros acabou afastando investidores estrangeiros, afinal, a taxa fica cada vez mais próxima dos juros americanos que, apesar de darem retorno menor, são mais seguros.
“A queda da diferença entre as taxas de juros internas e externas é um dos motivos. Reduziram-se em muito os atrativos para que haja um fluxo de dólares para o mercado brasileiro. O Banco Central acelerou o ciclo de cortes dos juros básicos, o que favorece a desvalorização do Real pela escassez de dólares que antes investiam aqui”