Há cerca de um ano, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, lançou o programa Agenda BC#, que apresentava ao mercado quatro grandes metas da atual gestão: democratizar, digitalizar, desburocratizar e desmonetizar o envio de dados.
Pouco mais de um ano se passou e, apesar de todas as recentes dificuldades em virtude da pandemia, hoje já é visível um grande movimento do BC em direção a esta pauta com recentes avanços nestas transformações, especialmente envolvendo open banking – um sistema que deve mudar completamente a dinâmica dos pagamentos e da forma como lidamos com dinheiro no Brasil.
Uma recente pesquisa da EY já detectou esta mudança. Ela mostra que a pandemia rapidamente modificou alguns comportamentos dos consumidores. Segundo o estudo, quase 60% das pessoas dentre as mais de mil ouvidas pretendem realizar mais transações financeiras on-line, o que indica uma grande mudança na relação tradicionalmente existente entre bancos e clientes.
O que vai mudar?
O termo open banking é um anglicismo que denomina um sistema de compartilhamento de dados, produtos e serviços financeiros. Esse conceito inclui a abertura e a integração de plataformas e estruturas de bancos e fintechs.
A novidade chega como uma alternativa ao antigo modelo de negócios dos bancos, que restringia as informações dos clientes a uma única instituição, o que sempre representou uma barreira para que os consumidores tenham acesso a diferentes serviços. Hoje, se um cliente que tem um bom histórico junto a determinado banco e a concorrência não sabe, seu acesso a melhores ofertas é reduzido, por exemplo.
Resumindo, o chamado open banking parte da prerrogativa de que a informação pertence ao cliente e não àquela determinada instituição. Desse modo, outras instituições podem verificar o histórico dos usuários e oferecer empréstimos, financiamentos e outros serviços em condições mais vantajosas.
O que possibilita tudo isso é o chamado uso de APIs, sigla para Application Programming Interface, ou interface de programação de aplicativos. Eles nada mais são do que protocolos de programação aplicados para promover a interação entre diferentes sistemas.
Graças às APIs, as plataformas podem compartilhar informações e realizar atualizações de forma automática, sempre de seguindo rígidos padrões de segurança.
Tudo isso somado ao advento da Lei Geral de Proteção aos Dados (LGPD), que entrará em vigor em maio de 2021, fará com que os bancos precisem trabalhar em consenso com os clientes para encontrar uma resolução que autorize o acesso às suas informações, fazendo com que o open banking se consolide.
O consumidor agora está no controle e seu protagonismo será fundamental para que possa se beneficiar desta maior abertura do mercado.
Segundo um relatório do próprio Banco Central, as cinco maiores instituições financeiras do país – Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander – detêm hoje mais de 80% das operações de crédito no país. Quando pensamos no câmbio, estes números chegam a quase estarrecedores 95%.
Com a implementação do open banking, a expectativa é que o aumento da concorrência vá diluir consideravelmente essa fatia.
Não se pode mais aceitar que uma grande instituição financeira cobre quase US$ 40 para fazer uma remessa de US$ 1 mil.
Acreditamos que a diluição bancária fará com que o câmbio seja finalmente tão democratizado quanto qualquer outro serviço, especialmente com o aumento de oferta de opções com o alto emprego de tecnologia.
Nós nos dedicamos a criar fintechs de câmbio todos os dias com a crença de que democratizar os serviços financeiros é a única saída para a prosperidade das pessoas.
Com a maturidade do sistema financeiro brasileiro, estou seguro de que teremos o melhor programa de open banking do mundo em pouco tempo. Todos os players do setor e, principalmente, os clientes vão sair ganhando com essa transformação.